Brasileira inverte lógica e leva cosméticos para americanos

Leia em 5min

Neste mês de julho a ex-modelo e empresária brasileira Manuella Bossa desembarcou nos Estados Unidos para sua aventura mais ousada. Tentar conquistar o mercado norte-americano de cosméticos para cabelos, considerado o maior do mundo. Na mala, levou suas armas, xampus e condicionadores profissionais de sua marca Truss Cosmetics, que encantam profissionais e consumidores brasileiros há 13 anos.

"A perspectiva é de que em três anos devemos chegar ao mesmo faturamento que temos hoje no Brasil [em torno de R$ 60 milhões]", diz.

Mas a mulher bonita e decidida que hoje comanda a expansão internacional percorreu um longo caminho até chegar ao ponto atual. Depois de deixar a carreira de modelo, ela tentou empreender na área de moda, trazendo para o Brasil produtos sofisticados da Itália, como lingerie. Por um tempo até deu certo, mas como entre seus clientes estavam duas redes varejistas com problemas, Mappin e Mesbla, ela decidiu rever seus negócios.

"Foi também o início da invasão de produtos chineses no setor têxtil e o mercado ficou difícil", conta a empresária. Uma oportunidade de trabalhar no departamento de marketing da empresa japonesa de filtros de água domiciliares Hokem abriu novamente os horizontes para ela.

O desejo dos sócios em entrar no segmento de cosméticos levou Manuella a levantar dados desse mercado. No entanto, por falta de ligação com o negócio principal da companhia, o projeto foi abandonado. Mas a pesquisa nunca saiu de sua mente. Com a licença dos japoneses, ela aproveitou o levantamento e, há 13 anos, desenvolveu um projeto no setor, que culminou com a montagem, há 6 anos, de uma fábrica de produtos para cabelo em São José do Rio Preto (SP). Hoje a Truss Cosmetics já fatura R$ 60 milhões e começa a alçar voos internacionais.

Fórmula vencedora

"Encontrei um 'professor Pardal', dentro da Universidade de São Carlos, que era um estudioso em cosmetologia para cabelos e fomos trabalhando juntos para encontrar a melhor fórmula." Desde essa época, Manuella se tornou uma espécie de 'piloto de teste' dos novos produtos que desenvolvia. "Cheguei a lavar a cabeça umas três vezes por dia só para testar produtos", relembra.

No início, ela tentou comercializar por venda direta e fez reuniões com donas de casa. A grande sacada era oferecer um kit de hidratação que recuperava danos ao cabelo em poucas aplicações. "Fiz anúncio em jornais chamando mulheres que queriam ganhar dinheiro vendendo os kits, o que atraiu muita gente, que compraram os kits para revender. Mas, no final, elas não me pagaram e precisei rever meu plano de negócios", conta.

Foi a partir do pedido de um cabeleireiro, para que ela fornecesse o kit em embalagem de litro, para uso em salão, que tudo mudou. "Vi que havia espaço para fornecer produtos profissionais para salões. E comecei a vender os kits em Rio Preto, com produção terceirizada." Depois disso, ela desenvolveu uma linha que chamava de home care, para que os profissionais indicassem para as clientes tratar o cabelo em casa. "Tinha salão que chegou a vender 40 ou 50 kits e assim comecei a expandir", afirma.

Da produção terceirizada, ela teve de partir para a produção própria e, hoje, seis anos depois, a Truss produz seus cosméticos em sua fábrica, com 85 funcionários, 92 distribuidores no Brasil e 25 internacionais. Agora, a empresa vai instalar a primeira filial externa, em Miami nos EUA, num investimento em torno de US$ 15 milhões.

"Nesse primeiro momento, vamos levar itens fabricados no Brasil, apenas algumas coisas poderão ser terceirizadas lá. Mas com cuidado, porque nossa fórmula é a nossa "Coca-Cola", brinca. Segundo ela, será preciso respeitar as diferenças entre os mercados brasileiro e norte-americano. Há produtos mais pesados para cabelos que precisam de cuidado intenso e há produtos de equilíbrio, mais leves. "Para exportar, dependemos das necessidades de cada país", diz. Além disso, há também uma diferença nos costumes de cada país. No Brasil, o consumo de cosméticos profissionais é maior que nos EUA, segundo a empresária. "A americana só vai ao cabeleireiro para cortar cabelo. Não é como aqui, que vai toda semana."

"Ser empresária no Brasil serve como uma 'universidade' para ser empresário em qualquer lugar. Paguei uma taxa anual de US$ 100 para abrir uma empresa nos Estados Unidos e já está aberta. Aqui, fiquei três anos com uma fábrica fechada esperando a autorização de funcionamento da Anvisa. Quando saiu eu tinha perdido até a garantia dos equipamentos. Não sabia nem o que fazia com funcionários. Se teria problemas trabalhistas ou não. Nos EUA, as leis, inclusive as trabalhistas, são muito menos rígidas", afirma.

Mas todo o cuidado é pouco para entrar no maior mercado mundial de cosméticos. "Aqui tenho micro e pequenos distribuidores espalhados pelo País. Lá são grandes distribuidores de cosméticos que prestam serviços a gigantes como Redken e L'Oreal. Mas estamos indo com cuidado, para não dar o passo maior que a perna. Para isso, tenho um acordo com um especialista do setor, que tem me ajudado a me estabelecer por lá", conta.

Manuella afirma ainda que está preparando a empresa para daqui a cinco anos. Isso incluiu delegar mais funções aos empregados para conseguir ficar na parte de gestão estratégica e marketing. "Hoje, já trabalho em casa, com whatsapp e internet. Assim, minha ida para fora do País não vai atrapalhar em nada. Faço reunião pela web na minha sala direto com o auditório da empresa", explica a empresária.

Uma boa escola

A Truss cresceu no mercado brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), que cresceu 11% só no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Atualmente, o mercado nacional é o terceiro maior do mundo, ficando atrás dos EUA e da China. Com um faturamento na ordem de R$ 101,7 bilhões, empresas brasileiras são responsáveis por mais de 1,8% do PIB nacional. O mercado de itens para cabelos, impulsionado pelas categorias de condicionadores, colorantes e xampu, movimentou R$ 21,2 bilhões, 11% acima de 2013.


Veículo: Jornal DCI


Veja também

Gastos com calçados superam R$ 22 bilhões ao ano, diz Fecomercio

Em 2014, os brasileiros gastaram pouco mais de R$ 22 bilhões com calçados, sendo as mulheres respons&aacut...

Veja mais
Verde Campo investe R$ 15 milhões

A Laticínio Verde Campo, com sede em Lavras, no Sul de Minas Gerais, investirá R$ 15 milhões em mai...

Veja mais
Crise influencia mudanças de hábitos da população nos supermercados

                    ...

Veja mais
Litoral catarinense ganha novo corredor de compras com rota dos outlets

                    ...

Veja mais
Leite de Rosas rejuvenesce marca para atrair público mais jovem

  Veículo: Jornal Valor Econômico...

Veja mais
Empresas elevam preços no mercado internacional e ainda veem demanda

As empresas brasileiras de celulose avaliam que a demanda externa segue forte o suficiente para absorver os aumentos de ...

Veja mais
Ferramentas tentam inibir publicidade digital

                    ...

Veja mais
Desemprego ganha força no comércio e em serviços

                    ...

Veja mais
Esparadrapo

A Flexicotton, de produtos à base de algodão, vai fornecer itens como curativos e hastes flexíveis ...

Veja mais