Após crescer cinco vezes, Kimberly terá nova gestão

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Após 12 anos à frente da americana Kimberly-Clark no Brasil, o executivo João Damato, de 63 anos, vai se aposentar. Quem assume o posto é o colombiano Sergio Cruz, que atualmente está baseado na Rússia, de onde comanda a operação de 15 países do Leste Europeu.

Cruz, de 47 anos, também já dirigiu a Kimberly nas Filipinas, na Venezuela e no Equador. Antes, trabalhou por 12 anos na Gillette (hoje da Procter & Gamble) na Colômbia. Ele assume o posto em janeiro e contará com a assistência de Damato em um período de transição que vai até março.

A empresa que Damato deixa para Cruz tem 5,5 vezes o tamanho e 40 vezes o lucro operacional daquela que ele assumiu em 2002. Hoje a filial brasileira é a terceira maior do grupo, presente em 47 países. O portfólio conta com 100 produtos de higiene pessoal e doméstica, como o absorvente Intimus, o papel higiênico Neve, a fralda Huggies e o papel-toalha Scott.

Em 2013, o faturamento bruto da Kimberly vai fechar em torno de R$ 3,4 bilhões, com alta de 15% sobre o ano passado, puxado pelo aumento de volume. "A gente fez uma premissa errada de que o dólar ficaria em R$ 2 e aumentou os preços abaixo do que foi o impacto nos insumos", diz Damato. O reajuste nos preços, feito no início do ano, ficou em torno de 6%. "Deveríamos ter reajustado bem mais". Em 2014, o aumento deve vir maior.

Damato chegou à Kimberly em março de 2002, para colocar ordem na casa. A companhia havia entrado no país em 1996, com a aquisição do controle da fabricante de fraldas Kenko. "Foram seis aquisições em três anos e, em 2001, essa massa estava em crise, de gestão e de caixa", diz o executivo. A empresa não tinha dinheiro nem para pagar os salários dos funcionários.

"A estratégia foi se concentrar em produtos de alta qualidade", conta Damato. A Kimberly deixou de fabricar itens de marca própria e papel higiênico de folha simples, por exemplo. Hoje só tem as versões de folha dupla e tripla. Segundo o executivo, as participações de mercado da empresa mais que dobraram na última década, e hoje a Kimberly é líder ou vice em todas as categorias na qual atua. "Crescemos 15% ao ano, enquanto o mercado cresce de 5% a 10%".

O executivo acredita que há espaço para a companhia continuar crescendo dois dígitos nos próximos anos, com a demanda gerada pela entrada de 40 milhões de pessoas na classe média. "Eles podem até não ter um automóvel, mas eu garanto que o banheiro deles vai ter papel higiênico", diz Damato. "Essas pessoas estão aspirando mais. Por que elas não vão pagar 20% a mais para uma fralda que dura o dobro do tempo?"

A Kimberly-Clark é líder em papel higiênico (Neve e Scott), lenços de papel (Kleenex) e absorventes (Intimus). Em fraldas (com Huggies Turma da Mônica), disputa ponto a ponto a liderança com a Procter & Gamble (Pampers). E é vice-líder em fraldas para incontinência urinária (com Plenitud).

Mesmo nas categorias que lidera, a Kimberly tem uma participação de mercado em torno de 30%, o que, para Damato, indica que ainda há muito espaço para crescer. "A empresa está bem posicionada para encarar a competição de maneira positiva. Quanto mais concorrência, melhor a qualidade dos produtos e maior a necessidade de introdução de novidades no mercado", afirma.

O segmento de cuidados infantis responde por 40% do faturamento. É também um dos que mais crescem: neste ano, a receita de fraldas aumentou em torno de 30%. As outras categorias (higiene íntima, cuidados para adultos e mercado corporativo) dividem a outra parte do faturamento, com cerca de 15% cada uma.

A Kimberly tem hoje 5 mil funcionários, cinco fábricas e três centros de distribuição no país. Quase todo o portfólio é produzido localmente. As instalações mais novas foram inauguradas em julho: uma fábrica e um centro de distribuição em Camaçari (BA). Em 2014, o investimento será em ampliação e modernização da capacidade instalada. Mas, para Damato, não deve demorar para que a empresa tenha fábricas, ou ao menos centros de distribuição, no Norte e no Centro-Oeste, onde as vendas mais crescem.

Quando foi chamado para a Kimberly, Damato havia trabalhado 16 anos na Unilever e seis na Editora Abril, onde foi responsável pela área de revistas femininas. Segundo Damato, as duas perguntas-chave que lhe fizeram, antes de assumir o cargo, foram "Você sabe trabalhar com time derrotado?" e "O Brasil é um país para se investir?". Para ele, o diagnóstico da matriz era claro: "era um time derrotado num país derrotado", afirma.

Atualmente a companhia investe em torno de R$ 120 milhões ao ano no mercado brasileiro. "Hoje o Brasil é prioridade", diz Damato. Outra conquista que o orgulha é que a Kimberly-Clark foi apontada, pelo quinto ano consecutivo, como uma das três melhores empresas para se trabalhar pelo Great Place to Work (GPTW).

Sem falsa modéstia, Damato considera que colocou a companhia no eixo e a deixa numa posição muito boa. "Nunca perdemos meta", diz. Ele afirma que não passa por sua cabeça parar de trabalhar. O próximo passo é ser consultor ou conselheiro de outras companhias no Brasil ou para outras operações da Kimberly no mundo.



Veículo: Valor Econômico


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