Família Klein pode fechar compra do controle da Via Varejo até outubro

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A família Klein faz mais uma tentativa de assumir o controle da Via Varejo, dona nas marcas Casa Bahia e Ponto Frio, que atualmente está nas mãos do Grupo Pão de Açúcar. As negociações já estão em curso e a expectativa é de conclusão em cerca de cinco meses. Para especialistas, o cenário dessa vez é mais favorável aos Klein, uma vez que a fraqueza da economia brasileira deixa a varejista menos atrativa para os estrangeiros e o Casino, que é o controlador do Pão de Açúcar, quer concluir a venda desse ativo até o final do ano.

 

- O objetivo é fazer da Via Varejo uma empresa de varejo com muito foco no digital. O negócio pode ser finalizado até outubro - afirmou uma fonte ligada à família Klein.

 

Se o negócio for concretizado, será a volta dos Klein ao controle das Casas Bahia após um período de dez anos. Foi no final de 2009 que a empresa foi comprada pela Globex, que era do Grupo Pão de Açúcar e detentora da bandeira Pão de Açúcar. Juntas, formaram a maior rede de varejo de eletrodomésticos do país. Desde o início, no entanto, a relação foi conflituosa.

 

O primeiro desentendimento veio poucos meses após o anúncio do negócio. A família do fundador da Casas Bahia, Samuel Klein, contestava o arranjo final do acordo, que os deixou com 47% da ainda Globex, abaixo dos 49% esperados.

 

Depois, em 2012, os Klein quiseram elevar a sua fatia para 70%, mas a proposta foi rejeitada pelos franceses do Casino. No ano seguinte, ocorreu a oferta de ações da já batizada Via Varejo e, nela, a família reduziu sua participação na varejista de 47% para 28,2% - atualmente essa fatia é de 25,2%.

 

Se os Klein estão insatisfeitos desde o início, o Casino tenta vender a fatia de 36,3% na Via Varejo desde o final de 2016, quando a empresa sentia os efeitos da recessão da economia brasileira e, posteriormente, da fraca recuperação da atividade. A Via Varejo teve prejuízo de R$ 49 milhões no primeiro trimestre deste ano. É uma recuperação e tanto sobre a perda de R$ 279 milhões no último trimestre de 2018, mas um tombo ante o lucro de R$ 64 milhões obtido de janeiro a março do ano passado.

 

- Michel Klein está tentando viabilizar uma modelagem financeira com a ajuda de fundos de investimentos, que assumiram o controle da operação. A ideia é assumir a gestão da empresa e investir mais no movimento de transformação digital, a exemplo do que os concorrentes já fizeram - avalia Ana Paula Tozzi, presidente da AGR Consultores.

 

No mercado, o comentário é que Klein já costura uma equipe para pôr em prática uma guinada no comando da Via Varejo:

 

- Klein já tem executivos com ele para virar a operação. Ele tem um quarto da empresa e enxerga neste momento do mercado oportunidade para retomar a companhia pagando pouco. Ele tem também um filho competente e com experiência justamente no segmento de start-ups e na área financeira, que atuou no grupo lá atrás - conta uma fonte.

 

A modelagem do negócio seria dada pelos fundos da XP Investimentos, que não confirma a operação. "Não há qualquer associação entre as gestoras de recursos do Grupo XP e o empresário Michael Klein. O braço de assessoria financeira do Grupo XP está sempre analisando junto a seus clientes possibilidades quanto a seus negócios não tendo nada até o momento com a Via Varejo”, afirmou, em nota.

 

Transformação digital

 

A Via Varejo até que tenta fazer a necessária transformação digital. No ano passado, lançou o projeto  Via+ para dar maior impulso às vendas do comércio eletrônico e à integração dos canais, com o objetivo de facilitar a compra por parte do público sem conta em banco. No entanto, a própria indefinição sobre o controle da empresa atrapalha esses projetos e a empresa perde terreno para concorrentes como a Magazine Luiza e, mais recentemente, para a Amazon.

 

- Eles avançaram, mas o que foi feito está muito aquém do que deveriam já ter atingido. Desempenho muito contrastantes de grupos diferentes em um mesmo segmento mostra que quem está indo bem está trabalhando melhor - sublinha Ana Paula, que acredita que é difícil fechar uma operação desse porte no curto prazo.

 

Na visão de Valter Pieracciani, sócio da consultoria paulistana Pieraccini, a varejista de fato cuidou pouco da transformação digital.

 

-  A volta da família Klein é emblemática. Eles são empreendedores seriais com DNA de comerciante. Resta saber se eles conseguirão vir com uma nova roupagem, mais digital e tecnológica - avaliou.

 

Para Vinícius Andrade, analista da Toro Investimentos, o negócio contribui para a valorização das ações da Via Varejo, uma vez que o novo controlador teria condições de concentrar suas atenções apenas nesse negócio. Diferente do Casino, que precisa se dividir entre a recuperação da varejista de eletroeletrônicos e o varejo alimentar, com as bandeiras do Grupo Pão de Açúcar.

 

- É um momento de concorrência. O Magazine Luiza desponta como o principal comércio eletrônico brasileiro a a Amazon se consolida no Brasil. A via Varejo está deixando a desejar na integração dos canais. Com a família Klein, a companhia teria um controle mais focado no segmento de móveis e varejo - disse.

 

No acumulado do ano, as ações da Via Varejo acumulam alta de 3,6%, pouco abaixo do desempenho do  Ibovespa, que sobe 4,8% no mesmo período.

 

Fonte: O Globo - Rio de Janeiro

 


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