Netshoes reforça gestão e governança

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Com expectativa de superar R$ 1 bilhão de faturamento este ano, a Netshoes está trazendo reforço de fora para aprimorar sua governança e gestão. A operação ainda é deficitária, mas o ponto de equilíbrio do caixa é previsto para meados do ano que vem, seguindo o plano de se tornar uma referência mundial em e-commerce de produtos esportivos até 2017.

 

Ex-diretor da Totvs, Ambev e Citibank, José Rogério Luiz assumiu há um mês a função de vice-presidente de planejamento, um cargo recém-criado. A missão do executivo - que se reportará diretamente ao presidente da empresa, Márcio Kumruian - é garantir a execução da estratégia de expansão da Netshoes daqui para frente, após um período de cinco anos em que a empresa cresceu de forma expressiva (ver gráfico).

 

A processo de "arrumação da casa" inclui também o aprimoramento do seu conselho de administração. Esta semana, dois novos membros, ambos independentes, passaram oficialmente a integrar o órgão: Paul Tagliabue, que atuou como comissário da NFL (liga de futebol americano) e Nicolas Szekasy, que atuou como diretor financeiro do Mercado Livre.

 

Segundo Rogério, a ideia é que, já no início do próximo ano, mais três membros independentes entrem para o conselho. "Alguém da área de marketing, outra pessoa de tecnologia e outra da área de gestão geral. Preferencialmente, todos de fora do país", adianta. Com isso, o conselho da Netshoes passará a contar com nove integrantes, dos quais cinco independentes, e os demais pertencentes ao seu bloco de controle.

 

Passado o período de rápida expansão, o executivo acredita que agora a Netshoes está com a faca e o queijo na mão para liderar o processo de "moralização" do e-commerce no Brasil.

 

No início dos anos 2000, para chamar a atenção do consumidor, os principais competidores de comércio virtual acirraram a disputa em preços. Sacrificaram, com isso, a qualidade dos serviços para compensar as margens. Essa fase do e-commerce no país, afirma Rogério, precisa ser enterrada e disso depende a longevidade de todas as varejistas on-line. "Foi-se a era do frete grátis e dos 12 vezes sem juros indiscriminadamente", diz Rogério.

 

Segmentada em artigos esportivos, a Netshoes conta com vantagens operacionais em relação aos e-commerces generalistas. Enquanto a B2W (dona de Submarino e Americanas.com), trabalha com margem bruta de entre 25% e 27%, a Netshoes opera com o mesmo indicador próximo a 45%.

 

Esse fenômeno ocorre porque, as grandes marcas esportivas "sugerem" os preços dos seus produtos, coisa que não acontece na indústria de eletrodométiscos e eletrônicos, por exemplo. A competição em preço é, portanto, menos agressiva para a Netshoes, que, na prática, dispõe de mais conforto para investir em serviços de entrega de qualidade, tecnologia, sistemas de atendimento ao consumidor e marketing.

 

O frete grátis existe na Netshoes. Mas apenas quado o prazo de entrega é considerado viável para a companhia. "Se precisar de mais imediatismo, haverá cobrança de uma taxa", explica o executivo. O "doze vezes sem juros" também é possível. A parcela mensal, no entanto, precisa estar acima de R$ 25.

 

A garantia de uma boa experiência de compra é o ponto crítico do modelo de negócio da Netshoes, diz Rogério. O sistema de troca de produtos é um dos diferenciais da companhia. Pelo site da empresa ou por telefone, o comprador pode solicitar a substituição. Os Correios vão à casa do cliente buscar o item e o novo produto solicitado chega em 10 dias, informa a Netshoes. O serviço é grátis, mas começa a ser cobrado caso o consumidor queira trocar pela segunda vez.

 

Fundada em 2000, a Netshoes migrou completamente para a internet em 2007. Este ano, a companhia apresentou pela primeira vez "equilíbrio" de Ebitda (resultado antes de juros impostos, amortização e depreciação) e projeta, para meados do ano que vem, geração positiva de caixa. "Em alguns meses, deverá haver lucro líquido", afirma.

 

O controle da Netshoes é compartilhado entre os dois fundadores brasileiros e os fundos Tiger, dos Estados Unidos e Temasek, de Cingapura. Este último fez um recente aporte de R$ 135 milhões no caixa da companhia.

 

Rogério comenta que a entrada de novos recursos na empresa está sendo negociada. Poderá vir de outros investidores ou mesmo do Tiger ou Tamasek, "dois sócios de bolso fundo", diz Rogério.

 

A possibilidade de uma oferta pública inicial também já é levada em consideração e o atual trabalho de aprimorar a governança ocorre nesse sentido. "Se a empresa entender que sua geração de caixa não será suficiente para aproveitar todas as boas oportunidades do mercado, a bolsa pode ser uma boa opção", afirma o executivo.

 

Além do Brasil, a Netshoes também possui operações no México e na Argentina. Rogério enxerga potencial para expansão da companhia para em países da América Latina.

 

No Brasil, diz, vários fatores convergem para o bom desempenho da empresa, como a crescente preocupação da população com saúde e prática de esportes, e eventos como Copa do Mundo e Olimpíada.

 

Em 2008, a Netshoes faturou R$ 50 milhões. A uma velocidade de crescimento médio anual de 138%, as vendas brutas alcançaram R$ 700 milhões no ano passado. Com a régua mais alta, o ritmo de expansão diminuirá agora para o patamar de dois dígitos, na média, durante os próximos cinco anos, prevê Rogério.

 


Veículo: Valor Econômico


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